Últimos que serão Primeiros

15/07/2014 09:34

O valor de nossos feitos não está nas proporções vultosas desses feitos:

 

   Deus não olha para o volume,

   Nem para a quantidade,

   Mas para a qualidade. 

 

  Ele não quer o muito, quer o bom, quer o melhor.  É preferível, pois, o pouco bom, ao muito regular.

 

▬  Nossas obras devem ser feitas com alegria e singeleza de coração:

 

   Sem tédio,

   Sem cansaço,

   Sem intenção reservada. 

 

   A virtude exclui cálculos de qualquer espécie. 

   Todo o bem que fazemos importa no cumprimento dum dever contraído. 

 

▬  "Fazei tudo que puderdes e dizei depois:  somos servos inúteis, fizemos somente o que devíamos” – tal é a palavra do Evangelho.

 

É um erro exaurirmo-nos numa labuta febril e penosa, com o propósito de nos tornarmos mais merecedores aos olhos de Deus: 

▬  "Misericórdia quero e não sacrifícios.”

 

▬  A vida, mesmo considerada sob o aspecto da existência terrena, é um dom precioso e como tal deve ser vivida:

 

   Destruir-lhe o encanto natural,

   Reduzi-la a uma série de atos forçados,

   Transformá-la, enfim, num fardo que se arrasta penosamente, não é virtude, é delito.

 

   Os reclusos do claustro,

   Furtando-se ao convívio social,

   Incompatibilizando-se com a natureza em todas as suas manifestações...

 

... Longe de se aproximarem do céu, como pretendem, distanciam-se dele; porque todo o móvel de seus atos se funda num requintado egoísmo. 

 

  O reino dos Céus é daqueles que se tornam como as crianças, diz o Mestre.  Onde a simplicidade e a inocência da criança, nessa atitude estudada, nessa vida egoística, cujo único fito se resume na conquista duma grande recompensa.

 

   A verdadeira virtude é aquela que a si mesma se ignora. 

   Os humildes jamais se julgam seres privilegiados. 

 

▬  "Bem aventurados os simples de espírito, porque deles é o reino dos Céus” – reza o Sermão da Montanha. 

 

  Bem aventurados aqueles que fazem o bem e não se lembram de que o fizeram.  A recompensa é sempre grande para os que nela não pensam, e é sempre mesquinha para os que a têm como móvel de seus atos.

 

Agir por amor, sem aflições, sem ânimo excitado, fruindo desse mesmo amor um doce e suave prazer – eis o ideal da vida. 

 

   Os que assim procedem são felizes.

   O tédio e o mau humor jamais os atingirão. 

   Nunca se queixam de ingratidões, nem de cansaço. 

 

Vivem com alegria de viver:  não se esgotam, nem se consomem.  Suas energias, tanto físicas como espirituais, são sempre renovadas, mantendo o equilíbrio geral.

 

  Ao homem não compete fazer ajustes com Deus: cumpre-lhe amá-lo e obedecer-lhe. 

 

Aqueles que prometem fazer isto ou aquilo, sob a condição de lhes ser concedida determinada mercê, desconhecem por completo o caráter da Divindade.  Pretendem fixar a paga, estabelecer o galardão. 

 

  Insensatos!  Deixai a Deus dar-vos o que bem entender, pois será sempre mais e melhor do que aquilo que concebeis em vosso egoísmo.

 

Não convém pedirmos a extensão dos nossos méritos:

▬  A Deus pertence esse mister. 

 

Ninguém é bom juiz em causa própria.  Trabalhemos com simplicidade, com alegria: 

▬  Deus nos dará o que for justo.

 

  Não convém, tão pouco, correr com o fito de ganhar dianteira, porque muitos últimos serão primeiros, e muitos primeiros serão derradeiros.

 

Eis o que nos ensina Jesus através da Parábola dos trabalhadores da undécima hora, incerta no Evangelho segundo Mateus, capítulo vinte.

 

Pedro de Camargo.