TURBULÊNCIAS: CATALISADORAS DE MUDANÇA

02/10/2014 10:31

Na travessia da existência, todos nos deparamos com momentos e situações de turbulência, em que o chão parece ruir e em que nos sentimos sem forças para seguir caminhando.

Uma primeira diferenciação que devemos fazer nestes momentos de turbulência é aquela entre realidades externas e realidades internas. As perturbações que você sente estão fora ou dentro de você?

Independentemente do que ocorre fora de nós, sempre é mais importante a maneira como reagimos às circunstâncias em que nos encontramos. Assim, podemos nos ver em meio a uma situação de calamidade natural, familiar ou emocional; mas se estivermos centrados e conectados com nosso ser real, estas calamidades não serão capazes de roubar nosso equilíbrio e não conseguirão exercer controle sobre nós.

Quando nos encontramos num período ou situação turbulenta, uma das primeiras providências que pensamos em tomar é mudar nossas circunstâncias externas. Assim, mudamos de casa, cidade, emprego, parceiro, buscamos novas atividades em nossa rotina. As mudanças externas podem servir como medidas temporárias de reequilíbrio interno, mas caso não mergulhemos mais fundo, e não analisemos a real fonte de nossa perturbação, que é sempre no cerne do ser, em pouco tempo nos veremos capturados pelos mesmos tipos de turbulência. Novamente seremos tomados pelos pensamentos e emoções daninhas, que mais uma vez nos controlarão e nos tornarão pesarosos. Isto porque não há mudança externa que substitua o que deve ser realmente mudado: nós mesmos.

Frente às grandes tempestades da vida, é necessário reverter a equação: ao invés de mudar o mundo, mudar a si mesmo. Se não podemos mudar certas situações difíceis, podemos mudar a nós mesmos, para que consigamos atravessar estas situações mais fortalecidos. O ser sempre é mais importante que as circunstâncias, e tem o poder de se mover para além delas.

A consciência, ou o ser real, é mais do que o corpo, as emoções ou a mente. É um centro equilibrado de paz, que comanda seus veículos de manifestação densos e sutis. É a fonte plena da vida e da auto percepção serena.

Um dos grandes perigos nas situações turbulentas é quando começamos a nos identificar com nossos pensamentos. Os pensamentos nos falam a todo momento, gritam, exigem, questionam, movem-se o tempo todo, não descansam, não têm paz. Há um dizer do Yoga que compara a mente humana a um macaco bêbado mordido por um escorpião. Assim é a nossa mente: quando identificamos nosso ser com ela, não temos paz, apenas turbulência e inquietação. Os pensamentos tomam o controle sobre nosso eu e, em situações difíceis, a reação típica é a de sentirmo-nos vítimas dos outros, das circunstâncias ou do destino. Começamos a distribuir culpas, acumular mágoas, e sentir pena de nós mesmos. O coração se torna pesado, as emoções se acinzentam e a vida, ao invés de fluir com a leveza que lhe é inerente, parece se arrastar. Sentimo-nos insatisfeitos, incompletos e infelizes.

 

Quando nos deixamos capturar pelas turbulências externas ou internas, fechamo-nos ao novo e criamos bloqueios que impedem a vida de fluir. Quando enxergamos a vida e os outros como inimigos, estamos deixando de aceitar a bondade que a vida diariamente nos traz.

 

O primeiro e mais fundamental passo para a mudança interna é a total honestidade consigo mesmo. E o passo seguinte é a compreensão e a aceitação da realidade encontrada. A honestidade para consigo e a aceitação das verdades de si trazem um grande senso de liberdade para o ser, como se um peso lhe estivesse sendo tirado da alma. E conseguimos novamente fazer as pazes com nossa presente condição.

 

A mente costuma nos contar estórias baseadas em condicionamentos e eventos passados, prendendo-nos a padrões negativos de raiva, tristeza e confusão. Precisamos nos perguntar: o que há em mim que sempre me prende a estas situações? Frequentemente nossas prisões mentais e emocionais tiveram origem em eventos passados, sobre os quais acumulamos camadas e camadas de reações conscientes e inconscientes, e que precisam ser removidas até que se chegue à origem de nossa dor.

 

Se algo lhe feriu no passado, e lhe prende em emoções daninhas até hoje, é necessário perdoar e esquecer, como se estivesse morrendo para o passado e renascendo para novas perspectivas. Quebrar com padrões negativos trazidos do passado não é fácil, mas basta que nos disponhamos a olhar para eles sob um novo prisma. E enquanto não conseguimos transformar estas memórias, vale ao menos procurar desapegar-se delas, desligando-se das mesmas e parando de alimentá-las.

 

O mergulho para dentro de si pode ser realizado de forma segura com práticas meditativas, espiritualistas e terapêuticas que se pautem em verdades luminosas e valores elevados, como o amor, a conexão, a fraternidade e o perdão. Transformar-se é um ato de coragem que requer muita fé em si mesmo, na vida e em um poder maior. Em meio à escuridão, estes valores maiores são luzes que nos guiam e que dão sustentação ao ser.

 

A reconexão com nosso interior é uma necessidade de primeira ordem para o resgate de nossa paz original. Quando nos identificamos com as coisas e com os outros externos, esquecendo-nos de nós em meio a tudo e todos com quem nos relacionamos, nossa paz interior é roubada. Um bom trabalho sobre si permite que façamos as pazes com o nosso presente e que nos movamos para as relações com o mundo de forma positiva, frutífera e saudável.

 

Tudo no universo é conectado por uma energia que vibra e reverbera. Se eu não for capaz de melhorar a mim mesmo, torno-me um peso para os outros. Já se meu ser estiver preenchido e equilibrado, estarei servindo não só a mim mesmo, mas também aos outros – pelos contatos presenciais e também pelas vibrações sutis positivas que, quando estamos bem conosco, emanamos, e que viajam até onde sequer podemos imaginar.

Texto baseado em notas de palestra proferida por Sonal Shah, num centro de meditação Brahma Kumaris