Que sentimos sobre nós?
Os sentimentos que mais necessitamos compreender para a nossa harmonia são aqueles que dizem respeito a nós próprios.
Que sentimos sobre nós? Qual a relação afetiva que temos conosco? Como temos tratado a nós mesmos? A partir de uma viagem nesse desconhecido íntimo, faremos descobertas fascinantes e primordiais para uma integração harmoniosa com a Lei Divina e o próximo. A partir da harmonia que podemos criar com nossa “vida profunda”, essa busca de si mesmo terá como prêmio o encontro com o “eu verdadeiro”, aquilo que realmente somos — a singularidade.
Como começar essa viagem de autoencontro em favor da consolidação de uma relação pacífica e amorosa conosco? Como trabalhar a aplicação do autoamor? Façamos, inicialmente, algumas indagações.
Que fatores íntimos determinam a nossa dependência de situações e pessoas?
Que causas emocionais ou psicológicas podem afastar‐nos do desejo de sermos criativos e espontâneos? O que nos impede de avançar em direção aos nossos íntimos de realização e felicidade? Por que ainda não temos conseguido progresso na construção de valores pessoais em sintonia com os propósitos iluminados da Doutrina Espírita? O que realmente queremos da vida?
O primeiro ato educativo na construção do valor pessoal é diluir a ilusão da inferioridade. Buscar as raízes do desamor que usamos conosco. O Criador nos ama como estamos. Temos um nobre significado para Deus. Somente nós, por enquanto, ainda não descobrimos o valor que possuímos. Inegavelmente, poucos de nós apresentamos bom aproveitamento nas oportunidades corporais pretéritas, no entanto, o destaque acentuado aos deslizes e quedas nas vidas sucessivas somente agrava o estado íntimo de amargura da alma. Renascemos com novo corpo para esquecer e olhar para frente. As indagações que devemos assinalar nesta etapa são: Por que não me sinto digno? Quais são minhas reais intenções? Que lições tenho a aprender quando me sinto inferior? Por que determinada atitude ou acontecimento me faz sentir inferior?
Outro aspecto na valorização pessoal a considerar são os julgamentos que aplicam a nós. O que importa é o que faremos diante deles. Como reagiremos? Podemos nos culpar ou adotar o cuidado de refletir sobre o valor que tenham para nós. Quando não cultuamos o autoamor, os julgamentos alheios constituem espessas algemas das mais nobres aspirações.
Em quaisquer situações o amor é nossa couraça pessoal. Quem se ama sabe se defender sem fugas e ter respostas emocionais inteligentes e serenas aos estímulos do
meio. Não crescemos sem conviver; isso não significa que devamos permitir a outrem ultrapassar os limites em relação à nossa intimidade. Somente nós próprios podemos penetrar com sabedoria e naturalidade a subjetividade de nosso ser.
Portanto, temos um processo interior — o sentimento de inferioridade — e uma força externa — os julgamentos, a aprovação social. Ambos consorciam‐se, frequentemente, contra nossos anseios de crescimento. Somente com a aquisição da autonomia saberemos lidar com tais fatores educativos.
Não fomos educados para desenvolver o outro a si mesmo na busca de seus caminhos. Fomos educados para manter o outro pensando como nós, escolhendo por nossas escolhas, opinando conforme os padrões de pensamento que adotamos e agindo de conformidade com nossa avaliação de certo e errado. É o regime de possessividade e submissão nas relações. É mais confortável ser orientado, ter respostas prontas para nossas dúvidas e angústias ou pedir alguém que nos indique a escolha mais acertada. Em inúmeras ocasiões é mais cômodo se ajustar a muitos julgamentos que acreditar nos ideais pessoais e nos nossos sentimentos.
Consideremos, dessa forma, quanto necessitamos investir na erradicação da acomodação em busca da solidificação da autonomia psicológica em favor da liberdade que ansiamos.
O impedimento frequente na construção da autonomia é o medo de rejeição — umas das mais graves consequências da baixa autoestima. Como seremos interpretados?
Qual será o conceito que farão de nós a partir do instante em que decidirmos por um caminho afinado com o que sentimos e pensamos?
A necessidade da aprovação alheia é extremamente enraizada na vida emocional. Todas as pessoas e suas respectivas idéias a nosso respeito merecem carinho e consideração, respeito e fraternidade. Porém, conceder a outrem o direito de aprovar ou reprovar...
A palavra aprovação, entre outros sinônimos, quer dizer: ter a nossa atitude reconhecida como moralmente boa. Analisando com cuidado, a aprovação se torna um julgamento, uma forma de interpretar e definir o que deve ou não ser feito e da forma como deve ser feito.
Sigamos a intuição, aprendendo a ler as mensagens sutis da vida interior despachadas pelo sentimento, evitando desprezo ao que sentimos. Mesmo as sensações desconfortáveis à consciência nos ensinam algo. A garantia de que vamos aprender depende do trato que daremos ao nosso mundo íntimo. O respeito incondicional que devemos usar conosco. Amar‐nos como merecemos ser amados.
Uma vez alfabetizados pelo coração, passaremos a fruir uma vida mais plena, felizes com nossa condição, permitindo‐nos evoluir com naturalidade, sem condenações e severidade.
Trecho – Escutando Sentimentos