O silêncio das palavras
E se nossas palavras fossem promotoras de silêncio?
Aquele silêncio de alma, cheio de ternura, quando a experiência nos cala, pois fala onde se ouve mais.
As palavras não deveriam ser usadas como se nelas houvesse vida própria.
Palavras são casulos. As mesmas letrinhas dos salmos bíblicos podem compor um funk ostentação, poemas de amor, sentenças judiciais, manuais técnicos…
Palavras são corpos. Corpos habitados por alma, letras habitadas pela energia que evocam.
A tecnologia nos expôs ao assédio das palavras e parece que sempre que algo como o incansável whatsapp diz alguma bobagem as letras empobrecem, esvaziam em nós; promovem ruídos.
Ruído dos excessos, do exagero, da sobrecarga.
Se nossas palavras fossem promotoras de silêncio ouviríamos melhor.
Ouvir melhor é fundamental para pensar melhor, para discernir quantas desimportâncias nos distraem, nos expõe às armadilhas como um inseto preso na teia de aranha. Perdeu o espaço, o movimento, a liberdade.
Uma mente ruidosa encurrala os pensamentos e eles deixam de voar.
Tornam-se reféns dos excessos, apequenam-se, esquecem do gosto da liberdade curiosa, do encanto natural das coisas simples, do silêncio imposto pelos prazeres mais contundentes.
Silêncio que revigora, que promove descanso, que desentope a audição; silêncio… O silêncio das palavras.
Flávio Siqueira