Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim... Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas! As sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas! E corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões”... Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco”... Olhei para cima, pra vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: "Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras”... Assim me tornei louco. E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura... a segurança de não ser compreendido, pois aquele desigual que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.
Khalil Gibran