Nós, a morte, o tempo
Um fenômeno interessante me chama atenção. Vivemos a experiência do tempo. Tudo o que existe um dia passou a ser até que, adiante, terminará.
O tempo é um caminho linear, tem principio meio e fim.
Estranho notar que, apesar da insistência do espelho que embranquece os cabelos e enruga a pele, o lugar onde existo parece estar fora do tempo.
É como se dentro da gente passado e futuro não existissem e a experiência absoluta do que chamo de presente fosse contradita pelas manifestações de passado, sempre presentes em meu subconsciente.
Somos seres que existem entre dois mundos.
O mundo do tempo, pro lado de fora, e o mundo do não tempo, pro lado de dentro.
Talvez essa seja uma das razões que nos faz enxergar a morte como uma aberração e, para tal, precisamos criar explicações, crer nas mais diversas teorias de fé.
A morte (como a percebemos) é uma experiencia do tempo.
Ela decreta um fim ao que um dia teve um começo.
O problema é que a mente humana (que existe no tempo) convive com o paradoxo de saber-se finita e sentir-se eterno (fora do tempo).
Provavelmente seja esse o lugar dos nossos vazios e o ponto de partida de nossas buscas.
Flávio Siqueira