Larga o osso, larga!

04/09/2013 09:51

 

 

Larga esse osso, larga!

Que coisa mais irritante é assistir políticos que se valem de todo tipo de artimanha para manterem-se no poder. Ainda que filmados na cena da falcatrua ou pegos com a mão na botija, ainda assim, fazem de tudo para não largarem o osso, não perderem a mamata. Mas não quero prender-me ao espanto desta atitude; acho que devemos refletir se nós também não temos “ossos” que já deveríamos ter largado.

Quando ouço a expressão “larga o osso”, logo penso no cachorro que faz de tudo para que ninguém lhe tire o osso que está roendo. É incrível como alguns cachorrinhos tão mansos viram verdadeiras feras quando alguém lhes ameaça tirar o osso. Passamos a usar esta expressão para traduzir a nossa dificuldade em largar as funções ou posições que ocupamos. O que faz com que nos apeguemos tanto aos nossos ossos funcionais ou profissionais? Por que não largamos os ossos de nossos cargos e trabalhos?

Pensando na minha experiência e na de algumas pessoas que conheço, creio que não largamos o osso por insegurança, por medo, por orgulho, por apego ao poder e ao status, por ganância ou por amarmos o que fazemos. Insegurança, pois em tempos de escassez e fome, ter um “osso para roer” nos traz, ainda que de modo fantasioso, tranqüilidade e segurança; medo, pois pensamos que podemos perder o que temos de mais importante na vida e que a mesma irá desmoronar – mas não se monta a vida sobre ossos; orgulho, pois não queremos dar o braço a torcer de que chegou a nossa hora de dar adeus e de sairmos de cena – é como se estivéssemos fracassando; apego ao poder e ao status, principalmente pelos benefícios que nos trazem e dos quais, não queremos abrir mão; ganância, este desejo insano de querer sempre e mais e de sugar todo o beneficio que puder do que fazemos; amor, pois nada preenche melhor a vida do que fazer o que se ama. A despeito da razão de nos apegarmos ao que fazemos, precisamos pensar se não está na hora de largarmos, sim, o osso.

Quando, então, devemos largar o osso? Não acho que seja fácil responder, mas se identificamos o nosso apego ao que fazemos por razões únicas de poder, orgulho, insegurança, medo ou ganância, precisamos pensar se não estamos sendo prejudiciais. Alguns indicadores podem nos ajudar: os resultados objetivos, pois se não consigo alcançá-los após recorrentes e prolongadas tentativas, pode ser que não esteja percebendo minha hora de sair de fininho e dar lugar a outro. Mas, somente o próprio roedor é capaz de saber se já tentou tudo o que devia. O feedback dos que estão com a gente na jornada pode ser outro indicativo, pois se muitos há muito tempo se mostram insatisfeitos com meu trabalho, pode estar na hora de sair. A saúde, pois se meu trabalho me é nocivo – ou se eu sou nocivo para os que comigo trabalham -, devo viver de outra fonte ou de outra forma. Mesmo se for o amor a razão de não largar o que faço, pode não ser esta uma justificativa razoável para me manter na função ou no cargo, pois posso estar prejudicando o próprio trabalho e as pessoas ligadas a ele.

Pense se você, assim como eu, já não passou da hora de largar o alguns ossos que nos são muito caros e bons de roer. Mas, talvez ainda seja tempo de ficar com ele – com o osso. Só Deus pode lhe ajudar nesta resposta. Mas, acima de tudo, precisamos ser verdadeiros, sermos honestos com as causas reais que nos fazem não largar o osso. E, se nesta avaliação do que se passa no seu coração, você conseguir enxergar uma razão que não justifique e aprove este seu apego ao que faz, se assim é, lhe aconselho: fique em paz, seja benção em outro lugar ou em outro modo e função, tenha coragem de passar o bastão: larga o osso, larga!

Deixemos de coisa e cuidemos da vida (e do osso certo)…

Vandi