Honestidade
É natural que, em busca da preservação ou mesmo da conquista de determinada condição, as pessoas acabem por mostrar-se exatamente a medida em que lhes pareça conveniente.
Por exemplo, se você participa de uma reunião onde seu diretor coloca em debate algum assunto que, por qualquer motivo, lhe pareça desconfortável, a tendência é que naturalmente você se posicione na defensiva e passe a falar com mais cautela.
Nos relacionamentos conjugais, a esposa deixa de fazer determinado comentário para não magoar o marido, enquanto ele prefere omitir o que lhe parece menos importante, justamente para evitar desconfianças.
Não que devêssemos sair por aí dizendo sempre exatamente tudo o que der na telha, certamente isso causaria problemas. Mas sem querer, nos auto programamos para nos preservarmos, não só através do natural instinto de sobrevivencia, como através do que falo, penso e faço, o tempo todo.
A medida em que procuramos nos moldar adequadamente a cada contexto, corremos o risco de perdermos nossa condição mais primária que é a de sermos honestos.
Vejamos: quando crianças, agíamos com total transparência e não mediamos as consequências de nossas birras.
Você já viu criança fazer média ?
Enquanto vemos o mundo com inocência, agimos com absoluta e desconcertante honestidade.
Sabendo disso, os adultos aprendem a tolerar demonstrações de desapreço, muitas vezes acompanhadas de gritos e choros intermináveis, pelo simples fato de que, por serem crianças, tem a prerrogativa de serem livres.
A medida em que somos inseridos nos grupos e começamos a nos relacionar , percebemos que a “meia verdade”, pode nos favorecer sempre que dita em favor de nossos interesses.
Com o tempo, a soma dessas “meio verdades” constroem uma estrutura psíquica onde as coisas vão perdendo seu valor e se relativizando, se o que estiver em jogo for do meu interesse.
É o ponto onde passo a não mais permitir que os outros me vejam e assumo a condição de um espelho humano que somente projeta as expectativas de quem vê.
Esse processo adoece a medida em que diminui consideravelmente nossa auto percepção e contribui para que, com o tempo, nos transformemos em indivíduos – conscientes ou não- manipuladores.
Quando estabeleço a honestidade como primeiro pilar na conquista da confiança, proponho um caminho que começa dentro de cada um e, a partir da consciência de que estamos nos perdendo de nós mesmos, resgata a capacidade de nos reconhecermos em nossas falas e atitudes.
Flavio Siqueira