Doença psíquica: a dor da alma

14/01/2015 10:06

O que dizer a alguém tão curvado sob o peso de tantos medos; tão fragilizado com o pesado fardo da insegurança; tão assustado com o horrendo fantasma do pânico; tão desesperado diante da incerteza de uma solução?…

 

O que fazer, quando no vigor dos anos, se deixa de sorrir e de sonhar; quando o sorriso dá lugar ao pranto; quando todos os medos afloram e adquirem um tamanho desproporcional; quando a simples arte de viver torna-se algo tão difícil de realizar?…

 

É possível que, nunca tendo se sentido assim, a gente chegue até mesmo a aconselhar:

 

“tire umas férias; faça uma viagem; tente relaxar; vá ao cinema; vá ao teatro; vá bater pernas, olhar vitrines, vá passear…” Outros, menos sensíveis, talvez usem frases como estas: “deixe de bobagem; isso é tolice; você é tão jovem; não existe razão para você se sentir assim; isso é frescura; isso é chilique; é falta do que fazer; é doença de gente chique… pobre não pode se dar o luxo de ter estresse… não tem tempo para sentir “essas coisas”, nem dinheiro para pagar psicólogo… terapia é fricote de quem é rico…” Não faltará com certeza gente para receitar: “tome água com açúcar; coma bastante alface; maracujá é calmante; antes de dormir tome um chá: camomila, cidreira, capim santo, flor de laranjeira, maçã com canela… você vai melhorar…”

 

E aquela pessoa sentindo-se tão triste, tão assustada, tão desarmada, tão humilhada, tão indefesa, tão infeliz… Ouve em silêncio, baixa a cabeça, fica perdida, sem direção; a voz embarga, a lágrima rola, não se controla, nada conforta, não tem palavras, nada diz. Chora seu pranto, sozinha em seu canto, sentindo na pele a mais profunda frustração. Ninguém a entende; todos opinam os mais religiosos sugerem orações. Nada dá certo; o mal continua; o medo aumenta; o pânico se instala; o desespero a invade e a torna incapaz. Incapaz de sorrir, de sonhar, de viver… Incapaz de sair, de trabalhar e até de crer.

 

Não sabe o que tem… Mas, sabe que tem. Tem consciência dos seus medos, mas não os controla. Percebe o que sente e embora desconheça a sua razão, sente tudo o que diz. Tem uma ferida que dói escondida no fundo da alma, que ninguém pode ver nem pode tocar. Só sabe quem sente… Só sente quem tem… Não merece crédito… Não comove as pessoas… É pura frescura… Não dói em ninguém.

 

É assim a doença emocional… Não mostra sangue. Não é palpável. Os exames clínicos não detectam; as sofisticadas máquinas de tomografia e ressonância magnética não registram; a maioria das pessoas ignora; boa parte dos médicos não valoriza… mas, nem por isso é menos dolorosa. A dor da alma é tão forte e provoca tanto sofrimento quanto à dor do corpo e ainda é dilatada pelo preconceito dos menos informados, muitos dos quais dentro da própria família. É importante se conscientizar de que a doença emocional – como toda doença – merece respeito e tratamento digno e adequado, com profissionais competentes e especializados. Convém ressaltar, que em se tratando de “doença democrática” que não escolhe sexo, idade, classe social, credo ou profissão, qualquer pessoa, até mesmo médico e psicólogo, pode ser acometida pela doença psíquica.

 

Para finalizar fica uma palavra amiga aos pacientes com depressão, transtorno do pânico, demais transtornos de ansiedade e do humor, de quem viveu a doença na sua forma mais intensa: “Jamais se deixem abater pela descrença porque a cura é possível e viver ainda é e sempre será o bem maior. Existirão momentos de incerteza e desânimo ao longo do tratamento, mas o importante é vencê-los e manter-se firme na medicação e na psicoterapia, porque lutar vale a pena e a cura é a maior conquista .”

Socorro Capiberibe