Discipulos da fresta
Vivemos em um quarto escuro cheio de janelas fechadas. Como os habitantes da caverna de Platão, nosso mundo se limita aos ecos e as sombras projetadas nas paredes manchadas. De vez em quando uma fresta, em uma janela qualquer, se abre. Entra um pouco de luz, entra um pouco de calor e isso mexe com toda perspectiva que mantínhamos em relação àquele lugar. Nos alegramos ao ponto de venerarmos a janela. Agora somos discípulos das frestas, anunciaremos à todos a maravilha que ela nos fez, a luz que trouxe e, enquanto fizermos assim, nos esqueceremos da paisagem.
Há paisagem lá fora! Ela é linda! Mas nossa permanência nas frestas nos inibirá de abrir as janelas. Já não conta mais a paisagem, importa a fresta que nos “salvou”.
Nosso quarto pode ter deixado de ser tão escuro, mas ainda há muitas janelas fechadas. As frestas melhoram o ambiente e principalmente nos indica que o mundo não se limita ao quarto claustrofóbico, mas frestas não são nada além de frestas.
Há paisagem lá fora! Há muitas janelas de cores, tamanhos e aberturas diferentes. Todas, se abertas, anunciarão a mesma paisagem. Todas, se honestas, nos convidarão para sair do quarto e conhecer a paisagem, a profundidade da paisagem. Viver o mundo que se conecta ao nosso, que nos dá asas, nos dá céu, nos faz livres.
Flavio Siqueira