A luz
Houve um dia em que o destino roubou-me o conforto, subtraiu-me a delicadeza, fez de mim um caminhante, sem direção,
tive que enfrentar a rudeza do cotidiano, o desamor dos homens, saí para viver o dia, o convívio, encontrar amores, afetos, desafetos,
saí para o combate... enveredei-me na conquista, no ter, no possuir, houve ausência de cores no meu existir, assustei-me com a negrura da noite, ao léu... vaguei desnudamente com os meus medos, sem emoção.
Busquei pelas estradas, luz...
pelo existir... atalhos que luzisse clareza, e luminosidade que viesse resplandecer meu caminho, um sinal que realçasse trilhas, ofuscasse crepúsculos, cintilasse o sol, e fizesse alvorada em todos os meus desejos, em todos os meus sonhos, brilhasse com fulgor meus devaneios, minhas secretas loucuras.
Saí em busca do esplendor do brilho, do teatro iluminado...
do aplauso.
Fiz espera na esquina... de claridade para os meus passos, para o meu andar, e sol a prumo para o meu viver.
De nada valeu a busca, de nada valeu a espera, não deparei com um candeeiro ou uma vela a minha frente, no meu caminhar.
Em silêncio... fugi para dentro de mim mesmo, fiz das adversidades, geradores de energia, encontrei a luz, na descoberta fiz da minha alma... brilho, passei a iluminar o meu existir, ter luz própria, revelar-se em deslumbramento, ter vertigens de amor, encanto pelo encontro, embriagar-se de orvalho, rir-se do nada, seduzir-se pelo simples, pela fugacidade da vida.
De tudo que passei, tudo foi muito intenso, ou talvez muito pouco, mais valeu.
Sobrevivi aos descaminhos do andar, tive que brilhar para mim mesmo.
E hoje as velas que acendo não são para pedir, nem para clarear meu caminho,
já o percorri de olhos fechados...
hoje acendo velas...
para agradecer.
Ari Mota