A coragem de ser eu

28/01/2015 10:26

Quando o brilho da meninice espelhava avidez nos meus olhos,

preparei-me para a guerra, para os conflitos sem fim.

Bem que minha coragem foi e é fruto das espadas que afiei,

bom mesmo foi que apenas temperei o corte, as afinei para a luta,

mas nunca as utilizei na incisão insana, nem sangrei a carne,

somente as guardei dentro de mim.

E por um bom tempo... fiquei indefeso,

vivi escondido em uma rua descalça... na solidão das gerais.

Temia... me perder se ultrapassasse a esquina da minha rua,

em cautela voltava sempre correndo... o inusitado me atemorizava,

presumia em alucinação ser vencido pelo caminho, que extenua.

E em desespero fazia do medo um refugio, do meu quarto um abrigo,

fiquei apavorado com o mundo, com a avenida desconhecida,

com a praça esquecida, com os becos adormecidos e outras vicinais.

E assim o destino um dia me empurrou ao acaso, em descortesia,

não tive outra saída, arranquei de dentro... toda a agonia.

E na descoberta, vi que de bárbaro nada tenho, sou apenas um poeta,

combato apenas com a escrita, uma gramática discreta.

Quando o ofuscar da meninice foi embora,

e o existir, esfolou-me a alma, arranhou o sonho,

fiz de mim um crescer, um ser que se aprimora.

Tudo foi muito lento, mas, aprendi que vencer é a arte da teimosia.

Atrevido, tive um olhar para fora, em demasia,

depois, ternamente olhei para dentro... de mim, delineei outros lugares.

Saltei os muros que moderavam os meus vôos, e inibiam os meus olhares.

Avistei outras existências, novos paradigmas e maravilhei-me com tudo,

rompi o temor de me perder, joguei fora as armas, o escudo.

Eu, que quando menino temia me perder na própria rua,

já fui um cidadão do mundo... hoje, tornei-me um ser universal.

Envelhecido, aprendi a amar o que sou,

ter a coragem de ser eu,

como não ficarei aqui para sempre,

de mim... só o amor será imortal.

 

Ari Mota