A casa que sou
Você chama de Deus. Mas não é Deus que procura.
Acha que é felicidade. Mas o que é felicidade além dos comerciais de margarina ou de carros potentes?
Você quer um trabalho melhor, se esforça e justifica: “Infelizmente em nossa sociedade é assim, o dinheiro fala mais alto.” Está apenas se enganando, como se fosse obrigado a aderir valores que não são seus, ritmos que desgastam, objetivos tantas vezes utópicos.
Você pensa que procura um grande amor? Engano. Quantas vezes “grandes amores” viram outras coisas, perdem o brilho na mesma proporção que deixam de ser novidade.
Uma país mais justo onde as coisas funcionem, onde houvesse menos desigualdade seria suficiente? Claro que a vida melhoraria, claro que estaríamos mais felizes, menos indignados, mas a pergunta é: seria suficiente?
Por que nunca é? Por que não saciamos? Por que a busca não cessa?
Trocamos de carro e arrumamos outra mulher, outro marido, outra vida. Mudamos de religião, deixamos tudo de lado e nos transformamos em seres “zen”. Mudamos nossa linguagem, nossos padrões, nosso trabalho e as mudanças nos agradam por um tempo.
Ajudam a estampar um sorriso novo, um olhar esperançoso que adiante será substituído pelo cansaço não confessado, pelas dores latentes que recusamos a admitir.
Empurramos para baixo do tapete e continuamos com nossas dores, silenciosos, em nossa eterna busca até que cesse.
Estava em nós. Tudo dentro. Nossa busca por Deus, por felicidade, por trabalho, por dinheiro, por justiça, por amores… Nossas buscas, todas por nós mesmos, perdidos, fragmentados em uma vida fragmentada.
Damos nomes às coisas de fora, mas dentro da gente elas vivem sem nome, todas eu, todas em mim, silenciosamente angustiadas até serem encontradas. Até que eu me cale e ouça. Até que eu veja e enxergue. Até reencontrar o caminho de casa, a minha casa, a casa que sou.
Flavio Siqueira